Segue a letra sobre a música Metáfora, de Gil, curiosidades e a palavra do autor sobre ela. Se quiserem ouvi-la cliquem aqui ou no link ao lado. Os textos recentes também estão disponíveis.
Um abraço e aproveitem.
[G]
Metáfora
música e letra: Gilberto Gil
1982
...
Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
© Gege Edições Musicais ltda (Brasil e América do Sul) / Preta Music (Resto do mundo)
"Metáfora é metalinguística: o poeta falando sobre a poesia: sobre a própria linguagem poética a se desvelar, se dizer o que é, se revelar.
"Uma canção que transcende ao propósito genérico da minha obra que é ser uma obra de compositor, como se houvesse um ligeiro deslocamento do ser poético para cima do ser musical, ou talvez para o lado; de todo modo, um deslocamento qualquer que lhe dá distinção."
"Metáfora: uma palavra com contundência sonora, traduzida diretamente do grego."
Inspiração durante a elaboração - "Só um ano, ou mais, depois de escrever o primeiro terceto num caderno e deixá-lo de lado, eu retornei à letra. Desde o início eu queria falar do significado da poesia - poetar o poetar -, mas até ali a palavra 'metáfora' ainda não tinha me ocorrido. Foi somente quando, ao começar o segundo terceto, surgiu a idéia de 'meta', que o termo me veio, e com ele a consciência de que, dali em diante, eu passaria a construir a letra para chegar à palavra 'metáfora' no fim - para culminar com ela e com ela titular a canção."
Dúvidas de percurso - "Enquanto escrevia, eu relutei em usar 'tudo-nada' [aqui, tal como o composto foi grafado no encarte do disco com a música] como uma palavra só, mas resolvi mantê-la assim para marcar a idéia da condensação dos sentidos, por mais opostos, num mesmo e único termo; só faltou radicalizar tirando o hífen e deixando 'tudonada', grafia [sugerida pelo coordenador deste livro] que passo a adotar. Outra relutância foi em admitir a brincadeira contida no verso 'deixe a sua meta fora da disputa' - o desmembramento da palavra antes de ela aparecer. Pareceu-me de início gratuito, mas acabei achando engenhoso."
À patrulha ideológica - "Eu queria responder às cobranças, que nos eram feitas na época, de conteúdos mais dirigidamente politico-sociais, e falar da independência do poeta; do fato de a poesia e a arte em geral pertencerem ao mundo da indeterminação, da incerteza, da imprevisibilidade, da liberdade, do paradoxo. O poeta Haroldo de Campos se identificou com a canção, que de fato é sobre - e para - todos nós: eles, os concretistas, que foram atacados pelos conteudistas, e nós, os baianos, que abraçamos a causa deles."
5 comentários:
Boa Gabriel. Isso é o que eu chamo de blog up to date.
Um beijo grande
Sergio Mota
Bem Sérgio...
Já que o blog chama-se RECALQUETERIA passo aqui só pra deixá-lo menos recalcado. Afinal não é muito sadio falar ou comentar com o "nada". Provando que participo deste, aqui vai um "alô" junto de um agradecimento pela visita.
Abraços
Felipe Cartier
Que bom ter seus comentários no nosso blog, professor! Seje sempre bem-vindo!!!
Camila
Que bom ter seus comentários no nosso blog, professor! Seja sempre bem-vindo!!!
Camila
rá! agora todo mundo vindo comentar depois do puxão de orelha do sergio mota... :)
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