segunda-feira, 27 de abril de 2009

TEMPO PERDIDO

Zigmunt Bauman: 'Estamos constantemente correndo atrás. O que ninguém sabe é correndo atrás de quê'
Publicada em 26/04/2009 às 11h21m - Fonte: O Globo
Karla Monteiro


RIO - Professor emérito das universidades de Leeds e de Varsóvia, 83 anos, autor de best-sellers como "O mal-estar da pós-modernidade", "Modernidade líquida" e "Amor líquido", o sociólogo polonês Zigmunt Bauman é um ferrenho analista das consequências sociais do que conhecemos como progresso. Nesta entrevista por email, ele discorreu sobre a correria do nosso tempo com o seu jeito claro, objetivo e muito particular.

O GLOBO: O que mudou na nossa percepção do tempo com o avanço das tecnologias de comunicação? Por que andamos com tanta pressa?
ZIGMUNT BAUMAN: Na sociedade contemporânea, somos treinados desde a infância a viver com pressa. O mundo, como somos induzidos a acreditar, tornou-se um contêiner sem fundo de coisas a serem consumidas e aproveitadas. A arte de viver consiste em esticar o tempo além do limite para encaixar a maior quantidade possível de sensações excitantes no nosso dia-a-dia. Essas sensações vêm e vão. E desaparecem tão rapidamente quanto emergem, seguidas sempre de novas sensações a se perseguir. A pressa - e o vazio - é fruto disso, das oportunidades que não podemos perder. Elas são infinitas se acreditamos nelas.

O GLOBO: Como chegamos a esse ponto de estresse e, talvez, cegueira?
ZIGMUNT BAUMAN: Cegueira? Depende de como você olha para o comportamento atual. Muitas pessoas, especialmente os jovens que nunca viram outras formas de viver, diriam que eles mantêm os olhos e os ouvidos muito abertos, e estão muito mais alertas e vigilantes do que os mais velhos, que viveram épocas menos frenéticas. Eles diriam mais: que estando tão alertas, e rapidamente pegando no ar as possibilidades, eles são os sábios, os que sabem viver a sua época. Esse ritmo é o ritmo do tempo que habitam, um tempo que abortou o que eu chamaria de tempo livre, o tempo não preenchido com o consumo de imagens, sons, gostos e sensações táteis. Somos dependentes dos estímulos externos: as mensagens que chegam no celular, o iPod, as conversas pela internet. A alternativa para o tempo não preenchido com esses estímulos não é mais vista como tempo de reflexão, de auto-questionamento, de conversa consigo mesmo, mas de tédio. Nós somos seres que se escoram no que vem de fora. Perdemos a capacidade de nos auto-estimular. Estar sozinho - a liberdade de gastar o tempo com nossos próprios pensamentos, per$e sonhada por nossos ancestrais - é identificado hoje com solidão, com abandono, com a sensação de não pertencer. No MySpace, no Facebook ou no Twitter, o ser humano enfim conseguiu abolir a solidão, o olho no olho consigo mesmo.

O GLOBO: O que o senhor apontaria como o epicentro da aceleração que tornou o mundo tão rápido e tão raso ao mesmo tempo?
ZIGMUNT BAUMAN: A sociedade pegou a estrada de uma vida orientada somente pelo consumo. O ser humano autossuficiente e satisfeito nas suas necessidades materiais ou espirituais perdeu o jogo para o mercado. Qualquer caminho que satisfaça os desejos e que não esteja ligado a compras e lucros é amaldiçoado. Vivemos o tempo do conecta e desconecta.

O GLOBO: Quando visitamos lugares como o Tibete temos a impressão de que eles vivem outro tempo, que têm um relógio diferente do nosso. Quem está mais próximo do tempo real, os tibetanos ou os nova-iorquinos, por exemplo?
ZIGMUNT BAUMAN:O tempo jorra em todos os lugares. E nós envelhecemos no Tibete ou em Nova York. Mas a experiência da passagem do tempo nós organizamos de maneira diferente, dependendo da sociedade em que estamos inseridos. Na maior parte da história da Humanidade, tínhamos basicamente duas formas de organização: o tempo cíclico, que se repete dia após dia, ano após ano, vivido pelas sociedades agrárias, como o Tibete. E o tempo linear, que marcha, move em direção ao futuro, dominante nas sociedades industriais e que expressa essa ideia de modernidade, progresso. O que estamos percebendo em Nova York - ou no Rio - é uma terceira e relativamente nova organização do tempo, que ganha terreno no que eu chamo de modernidade líquida: uma forma de vivenciar a passagem do tempo que não é nem cíclica e nem linear, um tempo sem seta, sem direção, dissipado numa infinidade de momentos, cada um deles episódico, fechado e curto, apenas frouxamente conectado com o momento anterior ou o seguinte, numa sucessão caótica. As oportunidades são imprevisíveis e incontroláveis. Então a vigilância sem trégua parece imprescindível. Esse tempo da modernidade líquida gera ansiedade e a sensação de ter perdido algo. Não importa o quanto tentamos, nunca estaremos em dia com o que aparentemente nos é oferecido. Vivemos um tempo em que estamos constantemente correndo atrás. O que ninguém sabe é correndo atrás de quê.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

WITH A LITTLE HELP FROM MY FRIENDS

Senhores, o blog R E C A L Q U E T E R I A transcendeu a turma de 2008. Fico feliz em saber que a turma de 2009 também faz uso dos textos e posts deste blog que nasceu justamente para compartilhar informação e experiências. Sejam bem vindos e aproveitem o material. Com ele o curso fica mais dinâmico e as referências não se perdem. Lembrando que os slides da apresentação de Carol Dias já estão disponíveis. Clique aqui ou no link ao lado para o download. Que a força esteja com vocês. ::G::