quinta-feira, 28 de agosto de 2008

CARTA AO MESTRE ZEN

Dia 26 de Agosto de 2008

Prezado Mestre,

Este é um desabafo. Desabafo de uma publicitária de 28 anos que não acredita mais na sabedoria humana do desapego. Aqui estou na Era do hedonismo e do neoliberalismo.

A cada dia que vou ao mundo, seja fisicamente ao sair de casa ou virtualmente pela internet, o meu ego se sobressalta, a minha consciência é persuadida. São promessas feitas, roupas vendidas, carros importados, champanhes caras, viagens em cruzeiros enaltecidas.

O cotidiano se circunscreve numa metrópole litorânea, onde os corpos malhados e os cabelos tingidos emolduram a paisagem praiana da cidade violenta.
Natureza e industrialização se misturam e compõem o espaço. Espaço de ruas, de calçadas, de becos e favelas. Espaço de carros que passam, de buzinas que tocam, de outdoors que divulgam, de lojas que comercializam. Espaço de mendigos que pedem, de camelôs que gritam, de dondocas que compram e de menores que furtam.

Eu me rendi ao capital. Capital que traz a aquisição, a oportunidade, o prazer, e quem sabe a alegria. Capital que promete, que convence, que ilude. O Ocidente há muito se rendeu. E agora, por que não diria o Oriente? A globalização está aí, com suas artimanhas e intervenções sócio-econômicas e culturais.

Num quase frenético ritmo as pessoas vivem: trabalham, ganham e gastam. O mundo contemporâneo tomou sua vez. Não há mais tempo a perder. A maquinaria imperando, o homem se presta ao seu favor. Computadores, televisões, celulares... a velocidade, o imediatismo, a facilidade me corrompem.

Sabe Mestre-Zen, eu entendo a sua filosofia, eu entendo a sua mensagem. Mas como poderei efetivamente adotá-la? Esta sociedade do espetáculo a cada dia mais me seduz, e eu admito que sucumbo aos desejos mais terrenos e efêmeros deste mundo.

Tenho a confessar que todas as técnicas e ideais vinculados à Doutrina Magna me instigam. Até invejo de quem os verdadeiramente compreendem e praticam. Mas sim, sou iludida por esta “realidade”. O meu ego já não mais se reinventa.
Sou quem sabe uma humana, que eternamente insatisfeita, busca os prazeres da vida e tem medo da morte.

Joana Nogueira de Lima

2 comentários:

Unknown disse...

Muito bom o texto, Joana, apesar de pessimista na raiz. Um beijo, Sergio Mota

Anônimo disse...

cara! se a galera tá escrevendo esse tipo de cartas, eu tô reprovada! minhas cartas tão mais para resenhas e olhe lá!